Era uma vez, uma camisa que virou menina. Uma meia que virou cabelo, uma bermuda que virou sapato e no lugar do coração, um amontoado de retalhos e algodão. "Peraí que só falta mais dois pontinhos no dedão do pé", avisava minha mãe. E pronto! Foi assim que nasceu a Filó. A Filó topava todas: a gente ia para o córrego? Ela era a primeira a cair na água. Comer goiaba no pé? Vichi... Ela chegava lá em cima primeiro que todo mundo. Bolo de barro? Quanto maior, mais feliz ela ficava... E aí quando o dia acabava e começava a disputa pelo chuveiro, a Filó ficava lá no quarto quietinha, só esperando amanhecer de novo. De vez em quando ela dava um susto na molecada! Mas aí rapidinho a gente corria prá casa com ela no colo e minha mãe (que já deixava a linha e a agulha no jeito), fazia a Filó "sarar" rapidinho. Cinco minutos e ela estava novinha em folha para fazer qualquer coisa. Isso já faz muito tempo. E prá falar a verdade já fazia muito tempo que eu não lembrava da Filó... A gente perdeu contato, se afastou. Eu fico imaginando o que ela está fazendo hoje porque naquela época de pé de goiaba e bolo de barro, lembro que queríamos ser arqueólogas. Perdi a conta de quantos buracos fizemos no quintal da fazenda (sob os protestos da minha avó) procurando ossos de dinossauros e vestígios de alguma civilização perdida. Ta achando o que? Brincadeira de criança é coisa séria! Mas o que eu estava contando é que a Filó sumiu. Cresceu, tomou outros rumos. Bons tempos aqueles em que a gente remendava todos os problemas do mundo com linha e agulha...
"O tempo foi se passando e ela se desmanchando
E hoje quem olha pra ela não diz quem é..."
Boneca de Pano, Assis Valente
"O tempo foi se passando e ela se desmanchando
E hoje quem olha pra ela não diz quem é..."
Boneca de Pano, Assis Valente