A cozinha da casa dos meus pais sempre foi um lugar movimentado. O dia todo você encontra alguém ali tomando um café, colocando a conversa em dia, comendo um pedaço de bolo ou biscoito, levando bronca ou ouvindo um conselho.
Por isso não era difícil de vez em quando a gente pegar o rabicho de uma conversa, de uma piada ou de um causo qualquer. Foi assim que um dia ouvi meu pai afirmando para um peão: “não... falar não adianta! Tem é que chamar o sujeito prá prosa". Lembrei dessa história hoje porque passei boa parte do dia proseando. E meu pai estava certo – falar é diferente de prosear.
A Lya Luft diz que “a boa prosa tem em suas entrelinhas um vento de poesia”. Acho que é esse vento danado que faz as palavras saírem mais leves na hora da prosa, sem dar tempo prá gente ficar discutindo quem está certo ou errado. Proseando a gente escuta mais. E a prosa – que pode ser séria ou só um causo ligeiro – parece que clareia melhor as coisas.
Tem uma moda do Tião Carreiro e Pardinho que afirma: tem prosa que nem precisa de palavras...
"No meio da passarada
por sinal os dois proseia"
Olha que lindo isso! Tem gente que fica tão aflita porque tem que conversar, que explicar, que entender, e justificar, e responder... Eu, se fosse você, arrumava um tempinho prá dois dedo de prosa, viu? Funciona que é uma beleza!
“...e me pergunto já em prosa: existe coisa mais gostosa?”
Fábio Alexandre Sexugi, poeta paranaense e, assim como eu, beberrão de café
Fábio Alexandre Sexugi, poeta paranaense e, assim como eu, beberrão de café