31 janeiro 2012

Atalho

Depois de morar 12 anos no mesmo lugar, a gente aprende todos os atalhos que precisa. Um atalho na rua para escapar dos faróis e chegar cinco minutos mais cedo. Outro atalho no trabalho para pegar o primeiro café da garrafa. Tem o atalho que passa em frente a única sorveteria com sorvete de banana na cidade. E aquele atalho que a gente não conta prá ninguém, mas que permite roubar um beijo no meio dia. =)

Aí, há mais ou menos uns dois anos, assisti a um show do Mococa e Paraíso no SESC de Rio Preto. Sentei na primeira fila, ao lado do Seo Zé do Cedro, e fiquei só esperando para ouvir “Doce de Cidra”, a minha preferida. Lá pelas tantas do show, o Seo Zé me cutucou: “presta atenção nessa”. E o vozeirão do Mococa lá no palco cantou:

Hoje no atalho de meu peito abandonado
O meu destino a pisar folhas caídas
Cruza a floresta do outro lado de meu tempo
Prá ver os anos carregando minha vida

Agora espia isso: na manhã do dia 31 de dezembro, na correria de comprar "mais aquele negócio que a gente esqueceu”, meu pai resolveu pegar um atalho para voltar para casa. No meio do caminho, pegou outro atalho para falar um “oi” para o Seo Carlos, um amigo muito querido.

Foi um “oi ligeiro” porque a livraria do Seo Carlos estava cheia dos clientes que lotam o lugar todo sábado de manhã para ouvir música. E eu já estava quase na porta quando o Seo Carlos perguntou: “menina, você sabe qual é o melhor atalho para evitar uma briga?”. Ele esperou para ver se eu ia responder – mas eu nem me atrevi... E aí ele respondeu logo: “é não brigar, uai! Porque “desbrigar” dá um muito trabalho! A gente acha fácil, fácil as palavras para brigar. Mas para “desbrigar”, não tem palavra que conserte o coração”.

Há sete meses mudei de cidade e de atalhos. E hoje, voltando para casa, arrisquei um atalho novo para encurtar o caminho. Não deu outra: tive que voltar e fazer o caminho antigo (rs). Cheguei em casa (mais tarde do que o previsto) pensando no Atalho da dupla Mococa e Paraíso e botei a moda para tocar baixinho...

Até que um dia o vendaval dos desenganos
Em pedacinhos fez a minha mocidade
Desesperado hoje eu grito e não encontro
O meu atalho na floresta da saudade

Não existe atalho para a saudade. Não dá para voltar e fazer o caminho de novo. E como o Pena Branca (sempre sábio) dizia: “a vida não se mede, mas se aprende no viver”. Então aprenda aí o atalho do seu Carlos: desbrigar dá muito trabalho. Na dúvida, economize um bocadinho as palavras. A raiva passa... Mas tem um bocado de pessoas que permanece sempre por perto, ajudando a gente a achar alguns atalhos mais fáceis prá vida...

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PS: Coisa boa a gente passa frente: se qualquer sábado desses você estiver em Campo Grande, não deixe de passar na Arte & Técnica, na rua Dom Aquino. Garantia de boa música (sempre!) e de brinde, o sorriso sempre gentil do Seo Carlos!


Mococa e Paraíso. Faltou só o Seo Carlos na foto! =)

6 comentários:

  1. É amiga... não existe atalho pra saudade...
    Essa tal saudade que aperta o peito, só acaba com um abraço beeem apertado, acompanhado de uma garrafa de café (ou vinho se preferir!) jogando conversa fora pela madrugada adentro. Pode ser ou tá difícil??

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  2. Concordo plenamente com a Liury. Pra matar a saudade, é preciso um bocadinho de investimento: financeiro e de tempo também. Caso um dos dois esteja disponível nessa quarta feira, me avise tá?!?!

    Como sempre o texto ficou lindo, e como disse pro meu amor (que veio matar a saudade) a pouco, queria andar do seu ladinho todo dia pra conhecer essas pessoas especiais...

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  3. A saudade é vento-brisa, ela vem sem ser chamada e quando menos esperamos faz de nós sua morada. Revivemos dias, momentos, fermentamos o fervor do que fomos e descobrimos que - ainda somos. Somos feitos de vento, somos feitos de brisa, somos feitos de sonhos em lampejos, somos alma entregues ao bel soprar da doce saudade que quando não dilacera é na alma a verdade. Lindo texto Flaviana, e olha só, fez nascer este. Parabéns.

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  4. E cada dia mais fã incondicional fico...
    Ler o que escreve é um prazer. Não dá pra "atalhar".

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