Aí, coisa de uns dois meses atrás, descobri uma peça de teatro que contava a história do poeta. E lá fui eu atrás das poesias deste caipira que saiu da roça aos sete anos de idade. Em 1924, em plena revolução, João chegava a São Paulo, aos 15 anos. Só voltou para o interior em 1995, já no fim da vida.
Mesmo depois de passar 71 anos morando na cidade grande, João Pacífico soube como ninguém falar da roça que o acompanhou até os últimos dias. E colocava em seus versos o cheiro, o mato, os riachos e serras que ele pouco viveu, mas que conhecia tão bem...
Resolvi contar esta história porque outro dia meu pai saiu com essa: “você não é mais caipira não... Já adotou a cidade grande!”. Eu quis responder na hora, mas deixei prá lá. Mas aí, no último final de semana, lá vem ele de novo: “tem jeito não... não é mais caipira”. Moço... Fiquei mordida!
Como meu pai é o leitor mais assíduo do Viola, achei melhor dar a resposta por aqui... rsrs E pensando na resposta, lembrei do Guimarães Rosa, que dizia: “o sertão é dentro da gente”.
É mais ou menos isso mesmo: o sertão vive em mim. E me faz reconhecer outros caipiras perdidos aqui no meio de tanto asfalto, buzina e gente sem tempo que vive correndo. Então, prá encerrar essa prosa, vou deixar outro poeta, o Adauto do Santos, falar por mim. Na voz da querida Inezita Barroso, ele escreveu tudo o que eu gostaria de dizer!
“Eu sou cabocla tô chegando lá da roça
Inda falo vige nossa, eu ainda digo é
Sou sertaneja, não me nego e faço gosto
Tá escrito no meu rosto, só não enxerga quem não quer
Eu sou aquele cheiro doce lá da mata
Água limpa da cascata, o verde dos cafezais
Modéstia parte sou o som daquela viola
Que um caboclo consola quando o acorde se faz
Eu sou do mato, sou caipira verdadeira
Sou perfume de madeira, esse é o jeito meu
Eu sou a fera que esconde o filhotinho
Ave que não sai do ninho, protegendo o que é seu
Eu sou aquilo que inda chamam de beleza
Sou um fato, sou certeza, tudo isso e muito mais
Nasci da terra, sou a flor da natureza
Eu sou vida, sou pureza, amor que não se desfaz”
Então é isso, Rubão: “modéstia parte, sou o som daquela viola”. Ou, como diriam Jacó e Jacozinho, “eu sou caipira... Mas quem não é?”.
Te amo, meu pai! Um beijo da sua caipira (de sempre!)
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Prá embalar a prosa, "Caipira de Fato", gravada em 1997 por Inezita Barroso e Roberto Corrêa.
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